Eu tenho certeza de que seria uma péssima crítica de cinema.
Por mais que eu entenda os aspectos técnicos de fotografia, direção e etc, etc, o que eu mais valorizo na hora de criticar um filme é sempre a história que ele conta e a relevância dela para aquele momento (talvez por isso, roteiro seja sempre a minha categoria favorita).
Digo isso pois estou em época de maratona do Oscar, tentando assistir a todos os filmes indicados. O último deles foi Joy, que estreou essa semana no Brasil, com Jennifer Lawrence como protagonista.
Joy é baseado na história verídica de Joy Mangano, uma empreendedora americana. Durante o período mais difícil da sua vida (divorciada, mãe de três filhos (no filme, dois), com empregos relativamente medíocres e tendo que cuidar dos pais problemáticos), ela inventa um esfregão milagroso que se torna um sucesso de vendas pela televisão nos Estados Unidos.
Antes mesmo de assisti-lo, eu já sabia que o filme havia recebido críticas terríveis. Mesmo assim, ele estava na lista do Oscar e por obrigação com a maratona, eu teria que dar a ele uma chance.
E se o tempo todo eu pensava “ok, esse filme deve ser ruim, em algum momento ele vai ficar ruim, ué, quando será que vai começar a ficar ruim?”, ao mesmo tempo, outro sentimento surgia. Algo como, “ok, não importa o quão cafona e forçado esse recurso visual seja, a história dessa mulher é maravilhosa e eu estou realmente feliz por conhecê-la“.
Joy toca em algumas das questões primordiais da mulher que tenta empreender. A mais forte, talvez, seja o descrédito de todos ao seu redor. Família, público, investidores, o esforço é tremendo para alguém conseguir sucesso de primeira em uma empreitada. E ver Joy não desistir a cada adversidade (e eu garanto, surgem inúmeras no caminho dela), é revigorante.
Depois de assistir, fui procurar pelas críticas para entender o que havia de tão errado com o filme que eu havia perdido. Entre tantas, me deparei com a do Pablo Villaça e mesmo entendendo a relevância dele para o meio, não poderia discordar mais.
Em determinado momento ele comenta que entende a relevância do filme para o momento em que vivemos (feminismo, empoderamento), mas que a execução é mal feita já que “se concentra na comercialização de um símbolo da submissão feminina ao patriarcado (o esfregão)“.
WTF?
Mais importante do que o produto que ela cria e que, claro, acaba sendo o foco narrativo da trama (afinal, é a primeira empreitada dela), é o processo, a jornada que ela percorre até alcançar o sucesso.
Entender o esfregão como submissão feminina passa bem longe dos objetivos do filme, e é, no meu ponto de vista, se apegar a um detalhe errado para ajudar a construir uma imagem negativa do filme. Por exemplo, em determinada cena, Joy troca o tradicional vestido de dona de casa por uma calça e camisa, pois é assim que ela se sente mais confortável. Cadê a sua submissão feminina agora?
A própria atriz, que já demonstrou seu suporte ao feminismo em diversas ocasiões, sendo a carta aberta para Hollywood sobre a diferença de salários entre atores e atrizes a mais famosa entre elas, confirma essa tese:
“It’s not even about a woman and her mop,” says Lawrence. “It’s about a woman and her dreams, and all of the blood, sweat and tears and the joy but also the ugliness that goes into success.”
– Time
Então, se por um lado, eu talvez nunca venha a me tornar uma crítica de cinema, a minha maior habilidade acaba sendo focar no que é possível levar de bom de uma história que é contada em um filme para a vida.
E a história que Joy entrega é a de que precisamos celebrar as mulheres que se arriscam a encarar de frente o sistema capitalista, pois é a vitória delas que as tornam símbolos para as que estão por vir. E isso, para mim, é uma chamada muito mais interessante do que Nem Jennifer Lawrence salva Joy.
Adorei seu post. Depois vou repassar. Saudades de te ler. E quero ver o filme agora. Quero mais do q já queria.